Pode ouvir
E que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.
Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que tristeza.
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço,
E que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflicta em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente
Complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é plateia e a outra metade, é canção.
E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade... também...
Oswaldo Montenegro
5 comentários:
Lindo, lindo, lindo. Você é simplesmente genial em colocar não só o poema, mas a própria voz de Oswaldo Montenegro recitando-o. Está cada vez melhor vir aqui.
beijos
May
Grande poeta e escritor ,esse Oswaldo Montenegro,parabens pelo texto que escolheste ,prova o teu bom gosto .
Saudades ,aparece no meu flog .
Beijo.
Brazyluz
"Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável"
Oi Zé,
Osvaldo é o meu preferido pela sensibilidade, pelo carisma, pela humildade. Conheci em um show anos atrás. Não é estrela. Senta-se ao teu lado como um igual. Grande pessoa.
Botei teus links no meu blog, aparece lá.
Beijos
Deslumbrante ,ainda mas na voz insinuante de Oswaldo.
Metades ,tão presentes em nós,mas a única coisa que é por inteiro o amor a tudo .
Ligia
Ola! José Marques
Sucesso para o Blog !
Meu nome é Mauro Burlamaqui Sampaio
carioca residente em Portugal há mais de 20 anos .
Só agora soube que oswaldo Montenegro estava a declamar o poema que é de minha autoria e que foi feito antes da minha vinda para Portugal .
O poema está registado na Sociedade Portuguesa de Autores
e o aasunto já esta a ser tratado pelas respectivas Instituições .
Defino a situação com um frase popular genial dita por uma funcionária da Sociedade Brasileira de Autores " Andaram a bater continéncia com o boné dos outros "
Alguns pormenores , estão no meu blog http://mauroburlamaquisampaio.blogspot.com
Não posso ainda pormenorizar mais por estar em segredo de justiça .
Parabéns pelo bolg e por ter postado e gostado do poema.
Mauro Burlamaqui Sampaio
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