segunda-feira, agosto 28, 2006

Metade



    E que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
    Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
    Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

    Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que tristeza.
    Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada, mesmo que distante.
    Porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade.

    Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,
    Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos.
    Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.

    Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço,
    E que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.
    Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.

    Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
    Que o espelho reflicta em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
    Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei.
    Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.

    E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
    Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
    Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente
    Complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
    Porque metade de mim é plateia e a outra metade, é canção.

    E que minha loucura seja perdoada.
    Porque metade de mim é amor e a outra metade... também...

    Oswaldo Montenegro

5 comentários:

Gwendolyn Thompson disse...

Lindo, lindo, lindo. Você é simplesmente genial em colocar não só o poema, mas a própria voz de Oswaldo Montenegro recitando-o. Está cada vez melhor vir aqui.

beijos

May

Anónimo disse...

Grande poeta e escritor ,esse Oswaldo Montenegro,parabens pelo texto que escolheste ,prova o teu bom gosto .
Saudades ,aparece no meu flog .
Beijo.
Brazyluz

Menina do Rio disse...

"Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável"

Oi Zé,
Osvaldo é o meu preferido pela sensibilidade, pelo carisma, pela humildade. Conheci em um show anos atrás. Não é estrela. Senta-se ao teu lado como um igual. Grande pessoa.

Botei teus links no meu blog, aparece lá.

Beijos

Anónimo disse...

Deslumbrante ,ainda mas na voz insinuante de Oswaldo.
Metades ,tão presentes em nós,mas a única coisa que é por inteiro o amor a tudo .
Ligia

Mauro Burlamaqui Sampaio disse...

Ola! José Marques

Sucesso para o Blog !

Meu nome é Mauro Burlamaqui Sampaio
carioca residente em Portugal há mais de 20 anos .

Só agora soube que oswaldo Montenegro estava a declamar o poema que é de minha autoria e que foi feito antes da minha vinda para Portugal .

O poema está registado na Sociedade Portuguesa de Autores
e o aasunto já esta a ser tratado pelas respectivas Instituições .

Defino a situação com um frase popular genial dita por uma funcionária da Sociedade Brasileira de Autores " Andaram a bater continéncia com o boné dos outros "

Alguns pormenores , estão no meu blog http://mauroburlamaquisampaio.blogspot.com

Não posso ainda pormenorizar mais por estar em segredo de justiça .

Parabéns pelo bolg e por ter postado e gostado do poema.

Mauro Burlamaqui Sampaio