terça-feira, maio 30, 2006

RETALHOS - Não sei para onde vou… mas vou II

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Então, foi-nos explicado que, habitualmente, o último pelotão fornecia pára-quedistas para a segurança do quartel, para a gestão do refeitório, do bar e outros serviços de apoio e ainda alguns Páras eram destacados para prestar serviço na Polícia Aérea.
Eu sabia, pelo jornal da caserna, que todo o militar, fosse de que arma fosse, tinha aversão à polícia militar. Como não tínhamos polícia própria, era um fartote de mimos sempre que havia reencontros entre polícias e policiados. À porta de qualquer bar ou estação de caminho-de-ferro, nos momentos de embarque das tropas para o Ultramar ou fosse qual fosse a situação havia sempre um bom pretexto para chatear.
“- Só me faltava agora empacotarem-me nas guerras das polícias.” – pensei eu.
Este grupo, de cerca de vinte Pára-quedistas, no qual me incluía, só teve direito a gozar um fim-de-semana após a conclusão do curso de combate que não era mais do que o último estádio de preparação para a guerra.
Como se dos Óscares de Hollywood se tratasse, com as luzes da ribalta, cerca de duas centenas de nomeados foram projectados para a guerra. Foram todos, de forma prematura, arrancados dos ventres das suas cidades vilas ou aldeias, das universidades e/ou do trabalho e lançados para a guerra do ultramar.
Minha mãe andava contente por eu me ter safo da guerra, a namorada já pensava em casório e os amigos davam-me palmadas de júbilo nas costas ainda massacradas por longos meses de instrução. Eu, de uma forma estúpida, já quase embarcava nessa onda quando algo vindo do âmago me sussurrou:
“- Não vás por aí Zé… tu estás é condenado, como os demais, a regar com o teu suor, as tuas lágrimas e o teu sangue o capim das savanas.”
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