domingo, maio 28, 2006

RETALHOS - Não sei para onde vou… mas vou ( Continua)


Como pedindo desculpas por não termos sido mobilizados para a guerra, quando na verdade, desde o primeiro dia, já sentíamos pendente nas nossas cabeças, o machado do destino que nos esperava, o oficial pára-quedista, disse em tom pesaroso, que não podíamos ser todos mobilizados para a Guiné, porque o Regimento precisava de alguns de nós por algum tempo.
“- Este gajo, não deve bater bem da bola! Fala como se estivéssemos todos com pena de não embarcar de imediato para a guerra e logo para a Guiné.” – Pensei logo.
Não sei qual a “guerra” que nos está talhada, mas o Vietname (pelo que já se sabia por ex-combatentes regressados) … não obrigado.
Ser mobilizado para o “Vietname português” era como aceitar uma punição. Era considerada uma condenação a dois anos de apodrecimento em condições piores que as de um cárcere. O risco de o regresso se fazer na posição horizontal, entre tábuas ou deixar por lá as botas era muito grande.
Não existe na Guiné formações rochosas. A cota média a nível do mar situa-se abaixo dos 40 metros e só nas “Colinas do Boé” vai até aos 300 metros de altura. No litoral, o mar invade os rios alargando-os. A sua localização entre o Equador e o Trópico de Câncer, traz consigo um calor tórrido que varrido por ventos alísios e saharianos quentes, que secam os solos e a vegetação, formam poeiras altamente perniciosas para as vias respiratórias. Se juntarmos a isto ainda as monções e as suas trovoadas, os tornados rápidos acompanhados de chuvas torrenciais e uma guerra extraordinariamente difícil, o imaginar embarcar para aquele país e guerra era por si só um pesadelo.
Na guerra do ultramar, a Guiné era a que apresentava maior percentagem de mortos em combate representando essa percentagem o dobro da de Moçambique e o triplo da de Angola. Por todas estas razões, esta fama divulgou-se por toda a população em idade de cumprir o serviço militar, tornando-se um destino quase fatídico para qualquer potencial combatente.

6 comentários:

Anónimo disse...

Como sempre os retalhos do José Marques, são uma de uma leitura entusiasmante, para quando o livro, é o que eu pergunto?
Um abraço
Jorge martins

José Marques disse...

A ver vamos, para já não penso sinceramente nisso, nem escrevo com esse intuito. Quer O boletim oficial dos Pára-quedistas (âmbito nacional, quer a revista Viana, Social e Cultural (âmbito regional, têm vindo publicar extractos.
É preciso não dar passos maiores que as pernas.
Um abraço e obrigado pelo incentivo.

Anónimo disse...

Há 35 anos atrás!!!!!!!!!!
Quantos sentimentos,angústias e receios povoavam esses jovens em serviço ao seu pais...
Retalhos de uma etapa que jamais será esquecida!
Ligia

Anónimo disse...

Zé Marques!
Tens uma bela foto, que faz hoje precisamente 35 anos. É bem verdade que uma imagem vale mais que mil palavras. Toda aquela envolvência em redor dos pára-quedistas, com as janelas e varandas engalanadas com bandeiras e colchas e muita gente a aplaudir. Decerto uma grande mistura de sentimentos, já que aqueles eram os bravos soldados que iriam defender a Pátria, mas nem todos regressariam vivos ou inteiros.
Também gostei do retrato que fazes da Guiné, mas também havia coisas boas.
Gostei de te conhecer em Tancos.
1 abraço do Padrão

Anónimo disse...

Tens Razao aquele pedaco de terreno devia estar todo coberto por agua e assim ja livrava muitas dores de cabeca a muita gente.
Juntando a tudo o que escreveste
Baratas voadoras do tamanho Bois
Foi preciso ir para a Guine para as conhecer,Agua carregada de Vermes,Candelarias que cortavam a pele por onde passasem,Mosquitos.Enfim,Terra de Maravilha aquela.Um Abraco Parreira 801/73

Anónimo disse...

Antes demais, muitos Parabens por este excerto muito bem estruturado e construido. A fotografia é profundamente emocinante....Parabens!

Um beijinho muito grande da tua sempre Amiga