quinta-feira, fevereiro 09, 2006

RETALHOS - O frio da realidade III

Recordei as aulas teóricas dadas ao ar livre, onde o bom gigante era o prato da festa:
“- Patacão, isto chama-se o precursor e tem como função…” – e agora virado para todo o grupo, o Instrutor lá foi explicando vagarosamente, em que consistia o corpo de uma granada ofensiva.
De repente vira-se de novo e pergunta:
“- Patacão, como se chama isto?” - Mostrando o precursor.
“- Na sei, meu sargento” – Responde o Patacão.
Perante a risada geral, o sargento quase engolia o precursor de raiva. Eram umas aulas divertidas.
O Cunha, quase com metade da altura do Patacão, mas com uma energia incrível, estava sentado a meu lado e perguntou-me:
“- De que te ris pá? Nem com este frio deixas de magicar?”
“- Estava a pensar no Patacão e no sargento Vermelhinho.”
“- Não me fales nesse cabrão de Sargento, ainda sinto os ouvidos a fritar.”
“- Esse gajo, numa bela segunda-feira e depois de uma aula de minas e armadilhas, deu 15 minutos de intervalo.” – Como se eu não soubesse da história, o Cunha lá foi vomitando a sua revolta:
“- Passado o intervalo, esse cabrão deu pela minha falta. Estava estourado e adormeci sentado e encostado a uma árvore. O filho da puta veio procurar-me, sozinho, deu comigo e em vez de me acordar, atirou uma granada perto para me pregar um susto…”
Com a cara transfigurada pela revolta rematou:
“ – Se um dia o apanho na Guiné, limpo o sebo a esse cabrão”.

1 comentário:

Fernando disse...

Zé está um convite lá no meu blogue. Não te esqueças de responder