quarta-feira, fevereiro 08, 2006

É a Economia, estúpido!

Excelente artigo de Miguel Carvalho, com a devida vénia, que dou aqui à estampa
Eu já sabia que a Economia punha e dispunha.
Sinto-o no bolso, todos os meses. O ordenado é o meu barómetro: se estica, estou em retoma. Se não estica, entro em recessão.
Noutras considerações não entro, por manifesta incompetência.
Não jogo na bolsa, não tenho fundos de investimento, nem sequer comprei casa por pavor de ver o meu futuro entregue a um banco.
Mas há uns anos diverti-me imenso com o facto de um diligente empregado de hotel do Luxemburgo me bater à porta do quarto às sete da manhã para me entregar em mão o Financial Times, o que, como devem imaginar, é mesmo aquilo que um homem precisa às sete da manhã.
De Economia e Finanças, sei menos do que o básico. E sou um péssimo gestor dos meus vícios e gastos.
Sei pouca coisa, portanto...
Sei que, desde que há governos no Portugal democrático, os aumentos de ordenado têm sempre de ter em conta a crise e a inflação e, portanto, têm de ser moderados. A crise vem de longe, é como a fama do Constantino, o do brandy, se bem se lembram.
Sei também que as receitas do FMI para os países em crise nunca os tiraram da crise, pelo contrário. Li isso no El País de sábado, mas até para mim não era novidade.
Sei que a liberdade de Imprensa no Ocidente tem um preço – petróleo – e as guerras modernas um motivo – petróleo.
Sei que a ONU prega todos os anos no deserto que os ricos estão mais ricos e os pobres mais pobres e isso pouco mais dá do que rodapés nos jornais.
Sei que a revista Fortune (é mesmo esta?) publica anualmente uma lista dos mais ricos do mundo e que Bill Gates está sempre no topo e o engenheiro Belmiro aparece na lista.
Há dias, estiveram os dois por cá, o que nem sempre acontece, como se sabe.
Bill Gates, o tipo que magicou este sistema em que escrevo – que agradeço penhoradamente – teve honras de chefe de Estado, e ao que parece, o doutor Marques Mendes não gostou de tanto servilismo de Estado. Se pudesse, o doutor Mendes teria dito ao engenheiro Sócrates, em plena visita de Gates, uma coisa deste género: «Quanto mais te baixas, mais se te vê o rabo». Pensou, mas não disse. O doutor Mendes sabe que um dia, se lá chegar, pode ter de ser ele a fazer o papel de Sócrates.
Com jornalistas em êxtase a fazer a entrevista das suas vidas ao Bill e o histerismo político e ministerial que se viu, o doutor Mendes corria o risco de falar e ser mal interpretado. Por isso, deixou o Bill ir embora e falou depois. Sim, o doutor Mendes também sabe que a Economia, ao contrário do sonho do Gedeão, é que verdadeiramente comanda a vida. E ele deve saber isso, pelo menos desde que o professor Marcelo – do partido do doutor Mendes – se meteu com o engenheiro Belmiro por causa de uns negócios mal explicados. O patrão da SONAE zangou-se e obrigou os deputados a levantar o cuzinho bem cedo do choco para o irem ouvir ao Parlamento.
Se dúvidas ainda existissem sobre o facto da Economia mandar nas nossas vidas, eis que o País se agita por causa da OPA hostil da família Azevedo ao universo da PT. Negócio do ano. Do século. Ouvi dizer. Por momentos, pensei no que a minha vida ia mudar por causa da OPA. Descobri, com esforço, que talvez não mude nada, embora esperando sempre o pior. A OPA, ao que parece, é um Euromilhões à portuguesa, coisa nunca vista. Não sei. No outro Euromilhões, o das cruzinhas, ainda jogamos à sorte o nosso destino. Neste, cheira-me que ficamos a ver jogar. Mas isto sou eu...

1 comentário:

Anónimo disse...

Este artigo está excelente. Ainda bem que o publicaste aqui. O certo é que já perdemos a conta de há quantos anos andamos a falar que este país está a bater no fundo. Se os astrónomos descobrem isto, a existência de buracos negros passa a ser universalente aceita pela Física.:-)