sábado, janeiro 07, 2006

RETALHOS - Preparação para a guerra III (fim)

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No retorno, cruzei-me com o Jorge, meu amigo de infância, que por ser “rodas baixas” ia na parte da frente do grupo e com o olhar me queria dizer:
- “Zé, se eles conseguem nós também vamos conseguir.”
Como sempre, o Jorge tinha razão, conseguimos esse e todos os que se seguiram. Nesta fase da instrução já não havia lugar a desistências, antes quebrar que torcer.
E alguns quebraram mesmo, como veio acontecer, num exercício numa zona de vegetação traiçoeira, em que se “brincava” às emboscadas.
De um lado, os supostos Turras, (designação que se dava aos combatentes dos movimentos de libertação em África) na pele dos instrutores muito experientes. Do outro lado nós, instruendos que andávamos a aprender a combater sempre num ritmo intenso, forjado no esforço físico e sacrifício, num ambiente muito próximo do perigo, da incerteza e do acaso.
Os “turras” com bala real e nós com bala simulada de madeira numa velhinha Mauser. Às duas por três deu-se o contacto, entre dois camaradas divididos pelo exercício mas irmanados na mesma causa. O “Turra” surgiu de repente, detrás de uns arbustos, provavelmente ainda extasiado pela guerra de onde tinha regressado há poucos meses, e procurou a luta corpo a corpo, no intuito de dar uma sova ao instruendo. Mas para mal dele e sofrimento de todos, a Mauser encostou-se ao peito dele e disparou-se, vomitando uma bala de madeira que lhe rebentou as entranhas. Foi atingido mortalmente um combatente acabado de regressar da guerra em Moçambique, onde tinha resistido e sobrevivido às mais perigosas operações de combate.
Para nós foi mais um tiro entre tantos, que cruzavam por cima das nossas cabeças e mal nos apercebemos da tragédia. Tudo continuou como se nada tivesse acontecido. A ordem era avançar sempre, pois são situações que podem surgir na guerra a sério e temos sempre que encarar, resistir e seguir em frente. O exercício continuou, revelando já que todos eram muito fortes psicologicamente, com concentração redobrada, mostrando, da pior maneira, que estávamos quase prontos para enfrentar situações de todo o tipo e seguir em frente cumprindo as missões necessárias em teatro de guerra.

11 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Zé,estive ausente uns diazinhos da net,pude logo observar que tem muita coisa pra ler em Retalhos.Ainda bem que não é assunto televisivo senão teria perdido a oportunidade da sequência.Claro que irei ler desde o capítulo em que parei,já disse a você que não quero perder uma vírgula do que escreve e descreve. Como é é hora de do meu justo descanso,deixo pra amanhã ou domingo a leitura,pois gosto de ler com calma e atenção,não me perdoaria ler somente com os olhos. Meu propósito hoje aqui é parabenizá-lo pela conquista de estar em uma revista.Isso é o que eu chamo de uma notícia boa,meu amigo. Creio ter sido um presente de Natal muito prazeroso de receber.Você merece isso e muito mais. pois além de capaz e inteligente você é um ser humano super legal.Admiro muito sua pessoa. Sou sua leitora assídua e sua fã. Que este ano de 2006 se revele o ano das suas maiores realizações,meu amigo. Um grande abraço,com todo carinho e respeito que você merece.

Anónimo disse...

A continuidade na qualidade dos relatos do José marques, estão bem patentes, Parabens Zé.

Jorge Martins

Anónimo disse...

Olá Marques

Pá,gosto da tua escrita,ficamos entusiasmados ao ler os teus textos.
Marques ,tens algum livro publicado?
Abraço

Anónimo disse...

Zé, já li e claro gostei, OS meus parabens.

Já agora posso utilizar a tua foto dA torre francesa e podes dizer-me em que ano foi tirada?


Um abraço
Jorge Martins, 047115/81

Fernando disse...

Bem também estou acompanhar a aventura como é óbvio. Ainda bem que fazes o esclarecimento do significado de "turra", como depreciativamente eram conhecidos os combatentes dos movimentos de libertação.
Um aparte; o novo template não está mal, mas devias tentar centrar o sitios dos posts.

Anónimo disse...

Olá Zé ainda nao consegui ler tudo em "retalhos" mas do que li tenho-te a dizer: Muitos Muitos parabens!! Está espectacular a forma como conseguiste elevar-nos a um mundo que nos é alheio . esqueci completamente o tempo actual e deixei-me envolver por um outro tempo... um outro mundo! consegues colocar-nos lá. entendes o que quero dizer?
Adorei o que li, vou lendo aos poucos pk gosto d ler com calma mas, bom....adorei parabéns!!!

Anónimo disse...

Zé,

Como anteriormente disse, tenho gostado muito de ler os teus “Retalhos”, ler o teu Blog é estar a reviver uma grande parte da minha vivência nos Páras. Aposto que todos nós que estivemos nos Páras identificamo-nos com grande parte da tua prosa, pois temos experiências comuns, vivemos os mesmos tempos difíceis, mas, também muito enriquecedores.

Para além disso, quero te dizer que tens uma capacidade de narração apurada, de leitura fácil, sem falsos pretensiosismos e uma grande memória (pelo menos em relação à minha). Acho que tu sabes o que queres e sabes para onde vais.

Não me lembro de nenhum livro sobre Guerra Colonial que nos relate a vida de um soldado ao pormenor, desde o momento que vai à inspecção, recruta, curso de pára, curso de combate, ida para o Ultramar (de vez em quando em bom utilizar as mesmas palavras da altura) até chegar à peluda. Escrever sobre as várias experiências que vivemos e todas as vicissitudes que passamos, pode ser uma boa aposta pois a maior parte dos livros que andam por aí são escritos por oficiais superiores que têm uma visão diferente da nossa.

Como sabes vais ter muito trabalho pela frente, vais ter que puxar um pouco mais pela memória e o Blog serve de aquecimento, tal como antes do grande salto tiveste que fazer o Curso de Pára-quedismo. Não entendas as linhas seguintes como uma critica ao trabalho que tens feito até aqui, nada disso, mas, uma grande parte do pessoal que vai ler o teu futuro livro são Páras, que vão ter algumas dúvidas pois não são do teu tempo, tal como eu que ao ler os “Retalhos” não percebi se no teu curso saltavam de JU ou de Noratlas, se treinaram na Torre Francesa ou Americana (agora já sei, confirmas-te o que se dizia no meu curso, que éramos os primeiros a saltar da Torre Americana).

Por outro lado vais ter outro desafio que é conseguir transmitir aos civis e a outros militares (que não tiveram a mesma experiência que nós) toda a tua vivência naquela época, bem como o ambiente que se respirava naquela altura, os sacrifícios que passamos, o suor que largamos, o sangue que derramamos, as histórias boas e más que que passas-te e as que passaram os camaradas que estiveram ao teu lado.

Força, aproveita o tempo que tens, pois ele é um bem escasso.

Um abraço

M. Inácio

PQ. 541/70

PS: Já agora se souberes qual o número da tua recruta e/ou do teu curso de Pára-quedismo diz-me pois só me lembro que o meu Curso de Combate era o IC 1/71.

Anónimo disse...

Pois é Zé , para mim seria um prazer ler um livro teu.
Não sabes mas,o meu pai é sarg mor fuza com 4 comissões ao ultramar e apos ler os teus "retalhos" pediu-me logo para te perguntar se tinhas o livro publicado pois estava interessado em o ter.Como ves não são so pára-quedistas a admirar o teu trabalho.
Avança,toca la a parir esse livro
Um abraço
Neves

Anónimo disse...

Olá Zé!
Passei para te desejar um Bom Ano.
o texto está muito bom.
Já deu para ver que tens andado muito retalhado.LOL
Bjs Lili

Anónimo disse...

Bom Dia Zé
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♥σℓá!! νιм fαzєя υмα νιѕιтιинα є ∂єѕєנαя
υмα σтíмα ѕємαиιинα ρяα νσ¢ê!
Quero agradecer as suas palavras
є єѕρєяσ ѕυα νιѕιтιинα..
♥мιℓ вєιנσкαѕ♥
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Amiga ♥Maria♥
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Anónimo disse...

Sempre é um bom dia quando estamos em paz com nós mesmos, quando aprendemos a dar amor e recebê-lo.. Só é possível ser feliz quando compreendemos a grandeza do amor, e do perdão ...BEIJOS (¸.•´