quarta-feira, janeiro 04, 2006

RETALHOS - Preparação para a guerra II

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- “Este curso de combate que agora inicia, terminará a 18 de Dezembro, a tempo de poderem ter alguns dias de férias junto de vossas famílias.”
Como o silêncio imperava, nem podia comentar nada com o Risotas, que ali estava ao meu lado direito, firme e hirto, naquela pose de soldado de chumbo que contrastava com a sua habitual boa disposição. Dei comigo a pensar novamente:
- “Puta de vida, nesse dia fará um ano inteirinho que vim a testes e fiquei apurado para Pára-quedista. Se soubesse o que sei hoje… não era o filho da senhora Maria que apanhavam cá.”
E lá continuava o Comandante…
- “Ficarão prontos a demonstrar técnicas de combate que garantam o movimento, a acção de fogo e protecção em segurança, demonstrando também técnicas de transposição de obstáculos e desníveis, e cursos de água com recurso a cordas e outros meios”.
Estávamos em posição de descanso - o que é uma treta, pois estar de pé com as pernas abertas mas sem as poder movimentar, braços atrás das costas mas sem os poder mexer, sem poder falar, coçar ou olhar para o lado. – não será nem uma posição confortável.
Quase ao fim de uma hora de discurso, acho que falava, falava mas já ninguém o ouvia. Até que, finalmente, mandou destroçar, dando de presente quinze minutos de intervalo, mas avisando:
- “Tudo o que aqui vos disse, vai ser exigido nos próximos três meses, não vos prometo tarefas fáceis. Vão ser levados ao limite das vossas possibilidades físicas e psicológicas” - terminou gritando:
- “INSTRUÇÃO DURA”
- “COMBATE FÁCIL “ - gritou toda a companhia a plenos pulmões
Depois desta prelecção, que mais não era que guerra psicológica de forma a disseminar ideias chave do que nos esperava, percebi claramente que agora iria ser a sério. Até que o Cunha, (o baixote com cara de cigano mas com uma energia incrível, mais conhecido pelo Braga, por ser duma freguesia (Palmeira) limítrofe a Braga, cidade dos arcebispos,) veio com a novidade:
- “Acho, pelo que me contaram, e pelo paleio do nosso capitão, que esta companhia vai bater com os cornos na Guiné. Aposto com quem quiser.”
- “Quem é que te enfiou essa merda na cabeçorra?” – protesto eu, pois a guerra na Guiné não era para brincadeiras.
- “Para além das baixas, a Guiné não interessa nem ao Menino Jesus” – tentava eu contrariar, como se ainda fosse dono de mim e do meu destino.
Sem darmos conta do tempo, (até acho que os relógios dos tipos não funcionavam bem) já chamavam por nós para a formatura.
- “Como estiveram a descansar ouvindo o nosso capitão, vamos gastar um pouco essas energias acumuladas no fim-de-semana” – dizia o nosso sargento.
Para petisco foi servido um crosse com uma dezena de quilómetros, de tronco nu na estrada que separava a Base Aérea Nº3 e o nosso quartel, lá fomos palmilhar estrada ao som do bater das botas militares, que iam aumentando de peso na proporção de metros percorridos, com o suor a incomodar e a arder nos olhos.
- “Esse cabrão nunca mais vira”- dizia o Risotas atrás de mim, pois quanto mais nos afastávamos, mais tínhamos que calcorrear no retorno.
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2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Zé
É gratificante ver o teu trabalho reconhecido. Eu continuo a ler as tuas crónicas e a apreciá-las.
Um abraço

Anónimo disse...

olá ..
boa tarde..

ke bem..
é um bom começo..

espero ke tenha a continuidade..ke merece..

bjnho