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Quando se deixou para trás Lisboa e posteriormente a Ilha da Madeira ficou também muito de nós e os melhores anos das nossas vidas. As saudades são já indescritíveis e uma solidão enorme invade-nos. Os soldados lá se acantonam pelo convés e à sombra das baleeiras tentam combater esta ociosidade aliada ao stress de uma viagem para a guerra, mas uma melancolia sem remédio domina-os.
Nos tempos mornos da viagem tínhamos por companhia um mar de água, cuja cor se confundia com um céu de chumbo quente. O sul confundia-se com a guerra e os militares confundiam-se com a família. As memórias de vinte anos, destes rapazes feitos homens, vinham novamente ao pensamento. O Fugitivo, a Lassie, o Robin dos Bosques e o Zorro (séries da televisão) confundiam-se com guerrilheiros. As brincadeiras ao pião e ao espeto confundiam-se com o jogo da lerpa, e essas brincadeiras de crianças confundiam-se agora com a contenda que nos esperava.
Lembro-me do meu primeiro pião de bucho que se confunde também com o meu primeiro roubo. Os piões alinhadinhos na vertical e pendurados numa corda estavam ali como a desafiar-me e eu não resisti: fui ao último e zás… Passados uns minutos já a minha velhota tinha sido avisada. Levou-me pelas orelhas até devolver o pião na drogaria, tudo isto tendo como testemunha o velhinho mercado municipal. E foi precisamente nesse local que acabou por nascer o maior aborto urbanístico (prédio do Coutinho) que há memória em Viana do Castelo. Finalmente, passados trinta anos, está prestes a ser demolido corrigindo e despoluindo o horizonte desta cidade.
Estava eu absorvido pela saudade e divagando pelas minhas memórias quando alguém grita à porta do camarote:
“- Há porrada junto ao cinema e acho que é com os Comandos.”
Quase ninguém se mexeu nem pestanejou demonstrando total indiferença pelos que se entretinham a jogar à galheta. Como eu também não me mexi, pois estava observando a lerpa, algum esperto me alertou:
“- Oh Marques, não és tu que estás de cabo dia? Parece que temos malta nossa envolvida.”
Nos tempos mornos da viagem tínhamos por companhia um mar de água, cuja cor se confundia com um céu de chumbo quente. O sul confundia-se com a guerra e os militares confundiam-se com a família. As memórias de vinte anos, destes rapazes feitos homens, vinham novamente ao pensamento. O Fugitivo, a Lassie, o Robin dos Bosques e o Zorro (séries da televisão) confundiam-se com guerrilheiros. As brincadeiras ao pião e ao espeto confundiam-se com o jogo da lerpa, e essas brincadeiras de crianças confundiam-se agora com a contenda que nos esperava.
Lembro-me do meu primeiro pião de bucho que se confunde também com o meu primeiro roubo. Os piões alinhadinhos na vertical e pendurados numa corda estavam ali como a desafiar-me e eu não resisti: fui ao último e zás… Passados uns minutos já a minha velhota tinha sido avisada. Levou-me pelas orelhas até devolver o pião na drogaria, tudo isto tendo como testemunha o velhinho mercado municipal. E foi precisamente nesse local que acabou por nascer o maior aborto urbanístico (prédio do Coutinho) que há memória em Viana do Castelo. Finalmente, passados trinta anos, está prestes a ser demolido corrigindo e despoluindo o horizonte desta cidade.
Estava eu absorvido pela saudade e divagando pelas minhas memórias quando alguém grita à porta do camarote:
“- Há porrada junto ao cinema e acho que é com os Comandos.”
Quase ninguém se mexeu nem pestanejou demonstrando total indiferença pelos que se entretinham a jogar à galheta. Como eu também não me mexi, pois estava observando a lerpa, algum esperto me alertou:
“- Oh Marques, não és tu que estás de cabo dia? Parece que temos malta nossa envolvida.”
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continua
5 comentários:
Oi, Zé,
Mais uma vez vemos aí um aspecto doloroso da guerra: jovens, que mal deixaram os brinquedos, eram levados a matar e morrer numa coisa estúpida chamada guerra. Bela forma de relatar suas lembranças. Parabéns mais uma vez.
Beijos
May
MAR..........ONDAS QUE SE ARREBENTAM,COMO A VIDA DESSES JOVENS SAO ARREBENTADAS NA MELHOR ETAPA,POR ESSA GERRA TERRIVEL,ONDE O PRAZER DE VIVER E SABOREAR AS PEQUENAS COISAS SAO LEVADAS
A CENA DO PIÃO,A DESCOBERTA DA MÃE,O CASTIGO,ME ENTERNECERAM LEMBRANDO EPÓCAS TÃO DISTANTES,ONDE TUDO ERA SABOREADO.,DEIXANDO OS OLHOS A BRILHAR DE CONTENTAMENTO.
ESSAS LEMBRANÇAS ,AJUDAM E DÃO NOVAS FORÇAS.
MESMO ,DE TANTO TEMPO A CIDADE GANHA UM PRESENTE,A DEMOLIÇÃO!
AINDA BEM ,QUE EM MOMENTOS TERRIVEIS,TEMOS LEMBRANÇAS QUE NOS LEVAM A FLUTUAR.
liGIA
Excelente testemunho de uma realidade por que passaram milhares de jovens portugueses.
Parabéns.
Um Abraço
Sorrir é o segredo para quem quer viver. Sorrir é a
aventura, é voar pelo horizonte no azul celeste
num simples fechar de olhos.
Sorrir é dar mais emoção à vida, é viver mais intensamente,
é dar mais valor as próprias lagrimas... É torná-las com
um sentimento mais profundo, mais verdadeiro.
SORRIA, pois é só sorrindo que se
vive mais intensamente!
Parabéns pelo blog .
Zé.
Feliz aniversário!
Desejo que este dia seja repleto de muitas alegrias junto aos que ama.
Beijos no coração.
May
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