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A contra gosto lá me levantei. Os camaradas suspenderam a batota e fomos ver o que se passava. Tremenda algazarra com o pessoal do Exército a assistir a uma sessão de batatada no convés entre dois ou três Páras e outros tantos Comandos. Sempre que a rivalidade entre Páras e Comandos conduzia a este tipo de “combates”, o pessoal do Exército regozijava-se pois não gostavam dos Comandos nem pintados. Quando se pressentiu que tudo poderia descambar em algo grave, pois um Pára teimava em empurrar pela borda-falsa o seu adversário, alguém desapertou os contendores e aquilo morreu ali. Se entre marido e mulher não se mete a colher, entre militares não é muito diferente pois ninguém vai fazer queixinhas a seguir. Eu, que estava bem sossegado a ver as “habilidades” dos jogadores da batota no meu camarote, é que acabei por levar por tabela. De repente, como cabo de dia vejo-me a responder pelos actos de cerca de cinco dúzias de pára-quedistas que comigo embarcaram. Como dois ou três, se lembraram de andar à pancada… fui avisado que mal chegasse a Luanda, iria ser responsabilizado pelo ocorrido, por não ter identificado os Pára-quedistas intervenientes.
Como tinha alguma habilidade para o desenho, a pedido de alguns, fui tatuando nos seus braços o emblema dos Pára-quedistas. Assim os dias foram passando numa rotina que me começava a assustar. Já nada nos intimidava nem a viagem nem a guerra que nos esperava. Só nos restava o cansaço, o sono e a saudade. Por isso alguém dizia: “- Já só faltam 104 semanas para regressarmos”.
Foi isso que definiu o nosso objectivo principal e nos norteou todo o tempo: contar semana a semana.
Ao nono dia já se avistava o arranha-céus do Banco Comercial de Angola. O que era um ponto no horizonte, começou a emergir e com ele vislumbrámos a baía lindíssima de Luanda. Quando o Vera Cruz finalmente acostou ao porto de Luanda as tropas desembarcaram e logo, no cais, reparámos num autocarro azul da força aérea, que nos transportou a Belas onde estava instalado o nosso Batalhão de Caçadores Pára-quedistas nº 21.
Já em terra firme, avistam-se os barcos de pesca dos negros, passando lentamente para um e outro lado. Uns pássaros grandes e estranhos que pareciam gaivotas passeiam sem mover as asas, acima das palmeiras. Uns negros maltrapilhos arrastam-se a pedir esmola, outros oferecem cinzeiros de madeira e objectos esculpidos. Uns sujeitos brancos e sebentos trocam escudos por angolares com a taxa acrescida de 12%. Os brancos aqui, de patilhas e camisas transparentes, têm todos aspecto de vendedores de automóveis e de taxistas. As mulheres brancas andam excessivamente bem vestidas e as jovens mulatas são lindas de morrer. Somos rodeados por pretitos, descalços nesta terra poeirenta e vermelha que mais parece barro, com cachos de enormes bananas ao preço da chuva.
E assim terminou esta viagem, ancorando neste Brasil africano chamado Angola.
Como tinha alguma habilidade para o desenho, a pedido de alguns, fui tatuando nos seus braços o emblema dos Pára-quedistas. Assim os dias foram passando numa rotina que me começava a assustar. Já nada nos intimidava nem a viagem nem a guerra que nos esperava. Só nos restava o cansaço, o sono e a saudade. Por isso alguém dizia: “- Já só faltam 104 semanas para regressarmos”.
Foi isso que definiu o nosso objectivo principal e nos norteou todo o tempo: contar semana a semana.
Ao nono dia já se avistava o arranha-céus do Banco Comercial de Angola. O que era um ponto no horizonte, começou a emergir e com ele vislumbrámos a baía lindíssima de Luanda. Quando o Vera Cruz finalmente acostou ao porto de Luanda as tropas desembarcaram e logo, no cais, reparámos num autocarro azul da força aérea, que nos transportou a Belas onde estava instalado o nosso Batalhão de Caçadores Pára-quedistas nº 21.
Já em terra firme, avistam-se os barcos de pesca dos negros, passando lentamente para um e outro lado. Uns pássaros grandes e estranhos que pareciam gaivotas passeiam sem mover as asas, acima das palmeiras. Uns negros maltrapilhos arrastam-se a pedir esmola, outros oferecem cinzeiros de madeira e objectos esculpidos. Uns sujeitos brancos e sebentos trocam escudos por angolares com a taxa acrescida de 12%. Os brancos aqui, de patilhas e camisas transparentes, têm todos aspecto de vendedores de automóveis e de taxistas. As mulheres brancas andam excessivamente bem vestidas e as jovens mulatas são lindas de morrer. Somos rodeados por pretitos, descalços nesta terra poeirenta e vermelha que mais parece barro, com cachos de enormes bananas ao preço da chuva.
E assim terminou esta viagem, ancorando neste Brasil africano chamado Angola.