Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.
ANDERSEN, Sophia de Mello Breyner
in “ Obra Poética II”
O “ Boina Verde”, boletim do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas nº 21, em formato e papel de jornal, nasceu em Angola em Agosto de 1965, precisamente no BCP 21, de que me orgulho ter pertencido, tendo eu na altura, colaborado, internamente, num jornal de parede chamado “Queda Livre” de 1971 a 1973.
Tal foi o seu sucesso entre todos os “boinas verdes” portugueses, na altura espalhados por três teatros de operações distantes, que de todas as unidades chegavam à redacção do boletim artigos para publicação e manifestações de apreço.
Assim, mais tarde, mantendo-se no BCP 21 passou a “jornal dos pára-quedistas”., até que, já no pós-25 de Abril de 1974, interrompeu a publicação, vitima da instabilidade que atingiu a organização pára-quedista.
Voltaria à vida em 1981, trimestralmente, com o mesmo nome, mas agora em formato (A4) e a cores.
Propunha-se o comandante do CTP, Brigadeiro Pára-quedista Heitor Almendra, (que em Angola, como Tenente-coronel comandava o BCP 21 no qual eu me integrava), lançar “definitivamente o “Boina Verde” com a indispensável regularidade, 4 vezes por ano, a partir de 1982… que seria um elo de ligação permanente entre todos os Páras.
O Coronel PQ, Barroca Monteiro, tomou conhecimento, via mundo da blogosfera, que eu estava a escrever as minhas memórias enquanto pára-quedista. Propôs ao chefe de redacção do “Boina Verde”, Major PQ, Álvaro Cunha, a minha colaboração, através dos meus registos enquanto soldado pára-quedista. É assim que surge, em jeito de crónica, na revista Boina Verde, acabada de publicar, os Retalhos das minhas memórias.
FARTO DE…
Farto de ser o culpado sem ter culpa de nada
Ser rejeitado farto de conversa fiada
Farto deste sistema de merda que nos engole
Farto destes políticos a coçar colhões ao sol
Farto de promessas da treta
Sobem ao poder metem as promessas na gaveta
Farto de ver o país parado como uma lesma
Ver as moscas mudarem e a merda ser a mesma
Farto de os ver saltar quando os barcos naufragam
Quanto mais tiverem melhor , menos impostos pagam
Farto de rir quando me apetece chorar
Farto de comer calado e calado ficar
Farto das notícias na televisão
Farto de guerras , conflitos ,fome e destruição
Farto de injustiças , tanta desigualdade
Cegos são os que fingem que não vêem a verdade
E eu tou farto...
Racismo, Guerra, Injustiça , Fome, Desemprego , Pobreza
E eu tou farto
Mentiras, Traição, Inveja, Cinismo, Maldade, Tristeza
E eu tou farto
Racismo, Guerra, Injustiça , Fome, Desemprego , Pobreza
E eu tou farto
Mentiras, Traição, Inveja, Cinismo, Maldade, Tristeza
Já chega...
Farto de miséria , o povo na pobreza
Uns deitam a comida fora , outros não a tem á mesa
Farto de rótulos , estigmas e preconceitos
Abrir os olhos e ver não temos os mesmos direitos
Farto de mentiras , farto de tentar acreditar
Farto de esperar sem ver nada a melhorar
Farto de ser a carta fora do baralho
Farto destes cabrões neste sistema do caralho
Ver roubar o que é nosso , impávido e sereno
Ser acusado de coisas que eu próprio condeno
Farto de ser político quando só quero ser mc
Não te iludas ninguém quer saber de ti
Todos falam da crise mas nem todos a sentem
Muitos com razão, mas muitos deles apenas mentem
Crimes camuflados durante anos a fio
Tavam lá todos eles mas ninguém viu
Nao foi ninguém, ninguém fez nada,
E se por acaso perguntarem ninguém diz nada
Farto de ver intócaveis sairem impunes
Dizem que a justiça é para todos mas muitos sao imunes
Dois pesos, duas medidas
Fazem o que fazem seguem com as suas vidas
Para o povo nao há facilidades
E os verdadeiros criminosos do lado errado das grades
BOSS AC
Ritmo Amor Palavras
Com devida vénia da: Estrelinha Ajuizada