terça-feira, abril 04, 2006

RETALHOS - Tudo o resto ficava para trás IV (fim)

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Dez dias para ir a casa fazer a despedida dos familiares, dos amigos, das coisas que os acompanharam em toda a sua juventude e agora, abruptamente, eram interrompidas. Poder fazer umas asneiras por conta, arranjar umas madrinhas de guerra para se corresponderem. Ter acesso ao último prazer carnal, tal era a fome de se agarrar à vida, tentando não engravidar as namoradas. Ao quartel voltar-se-ia depois para daí iniciar a verdadeira viagem.
Ali mesmo detrás de mim sussurrava o Patacão:
“- Compadre! Chegando à minha terrinha, com a fome que levo desta vida de cabrão, vou arrebentar as beiças à minha Ceição.”
“- Não sejas chaparro.” – Proferiu o Risotas.
“- Quem sabe se ela não virá a ser a tua esposa ainda.”
“- E depois? Quem me garante que regresso da Guiné?” – Defende-se o bom gigante.
Penso eu com os meus botões:
“- Este gajo é mesmo parvo, mas não deixa de ter a sua razão.”
Distribuídos os passaportes, reparo que não chegam para todos. Como o meu pelotão era o 7º e último, eu não recebi o tal papelucho.
“ – Foda-se, queres ver que acabaram os passaportes.”- Diz o Cunha com cara de poucos amigos.
Depois de uns minutos os sargentos, que distribuíram os passaportes, voltaram a colocar-se na cabeça dos respectivos pelotões. Ouve-se novamente uma voz:
“- Todos os soldados pára-quedistas que acabaram de receber os seus passaportes aproveitem esses dias para descansarem bastante, e despedirem-se das famílias e amigos. Para todos esses e só esses: DESTRO….. ÇAR.”
“ – Os restantes”. - Continuou o Coronel Durão.
“ – Deixo-vos com o nosso capitão Gomes, que vos dará uma explicação em detalhe.”
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2 comentários:

Anónimo disse...

Caro José Marques
Um dos fascínios no MSN Spaces é que nos permite com facilidade, esta enorme diversidade de contactos e conhecimentos.
Quando deambulamos de página em página, vamos comentando, trocando ideias, e, criando amizades.
Tive oportunidade de ler que o meu amigo foi antigo combatente da guerra colonial, na Guiné em 1971.
Eu sou de uma geração 10 anos mais antiga, pelo que, em 1962 fui mobilizado para Angola, no que foi o 2º embarque de militares para as colónias. (Vamos defender o nosso Ultramar em força, disse entáo Salazar).
Foi uma comissão muito atribulada, porque a tropa Portuguesa não estava minimamente preparada, nem equipada, para enfrentar uma guerra daquelas.
- Imagine que a minha arma pessoal era uma espingarda de repetição "Mauser modelo 1904" com carregador de 5 balas ...
... foi a arma utilizada por Alemães na guerra de 1914.
Deixemos isso !!!
É com gosto que vim cumprimentar o caro amigo, e vou passando por aqui.
Abraço,

Anónimo disse...

Começo por lhe agradecer a visita que me fez e o comentário que deixou sobre o Mario Viegas. Sobre os seus Retalhos, o que me ocorre dizer de momento, é que continue, porque são estes testemunhos que ajudam a compreender uma realidade que existiu no nosso País ás gerações vindouras.