sábado, janeiro 28, 2006

RETALHOS - O frio da realidade I

A fase final da preparação de um Combatente Pára-quedista, é dedicada a simular, em condições adversas e semelhantes ao da guerra no ultramar, uma operação militar que ocorrem nas três frentes de batalha em África. Visa o último teste de aperfeiçoamento, de forma a pôr em prática todos os conhecimentos adquiridos ao longo destes sete meses.
O dia começou frio, como a noite não dormida, como é habitual na viagem de fim-de-semana. Lá estavam as Berliet’s, – as viaturas, de origem francesa e montadas no Tramagal, mais usadas no transporte de tropas – alinhadas ao longo do arruamento que aponta para a porta de armas, à nossa espera para nos embrulhar no seu aço frio.
A ração de combate, para quatro dias, estava bem aconchegada na mochila. Tudo era enlatado: feijão, sardinhas, bolachas da manutenção militar, ladrilhos de marmelada, chocolate em bisnagas como se fossem pastas de dentes, água enlatada no cantil. Até eu me sentia também enlatado dentro daquele camuflado, modelo PQ qualquer coisa, com uma dúzia de bolsos de coisa nenhuma. Tudo ia na minha casa ambulante – a mochila – e ainda a manta e a capa para dormir, bem enrolada em forma de “U” invertido. A isso juntava a G3 carregada com munições de madeira.
Surgiu o Capitão Gomes, já completamente ataviado com ar de guerrilheiro. Abandonou o ar de bonacheirão, adoptando agora aquela expressão dura, com o olhar penetrante e atento, capaz de penetrar no íntimo de cada soldado, mercê da sua larguíssima experiência adquirida na guerra.
E um a um lá gritavam os comandantes de pelotão até chegar ao meu grupo:
“ - Dá licença meu capitão, 7º pelotão pronto.” - Gritou com voz firme o Sargento.
De forma ordenada, fomos subindo para aquelas máquinas de aço frio e pouco cómodas, onde se acomodaram trinta futuros combatentes.
Ainda o dia não tinha despontado e já se notavam, no horizonte, nuvens escuras de chuva que aliadas à penumbra tornavam o ambiente ainda mais gélido. Saímos à porta de armas do Regimento, com a sentinela bem perfilada.
O comboio militar virou à direita ficando, à esquerda, a Base Aérea nº 3, onde descansavam os nossos amigos Noratlas, e o ainda velhinho Ju-52, velhos conhecidos, dos saltos no Arripiado.
.../...

2 comentários:

Anónimo disse...

Excelente texto que nos prende e nos recorda tudo o que é a preparação de um PQ para a guerra. Quem andou por lá sabe que, como aqui é bem referido, ser Páraquedista em tempo de guerra não é só saltar e voar, é muito mais que isso.
Uma abraço
Parabens

Anónimo disse...

oh!!!!!!!! um dos meus sonhos é saltar de pàra_quedas :(...Deve ser delirante ( o problema é o medo ehehhe) mas hei-de saltar! nem que tenha 100 anos :P !!!