sexta-feira, setembro 02, 2005

Magníficos idosos

Actualmente envelhece-se mais devagar do que dantes. A Terceira Idade (fala-se já na Quarta Idade) principia aos 75 anos, o que significa ter-se ganho uma década de vida. Quem trabalha com o cérebro, como os intelectuais, sofrem menos o desgaste do tempo do que, por exemplo, os operários.
A Morte é, aliás determinada, medicamente, pela paragem do cérebro, não o do coração.

Ao contrário do que se afirma, o tempo não afecta as nossas capacidades cerebrais, apenas as torna de velocidade mais lenta. Atente-se, por exemplo, na quantidade de inventos que são concebidos por pessoas de mais de 70 anos. Na era da informática que vivemos, tanto faz. Para accionar botões ou teclas, ter 18 como 80 anos é igual.
A idade cronológica de uma pessoa não tem, por outro lado a ver com a sua idade biológica. Não detemos a mesma idade em todo o corpo, as minhas mãos, o meu baço, as minhas pernas não apresentam a mesma duração, uns órgãos são mais velhos que outros (Almerindo Lessa), gerontologista de projecção internacional.
Nos Cárpatos, nos Andes, e noutras zonas de montanha encontram-se aldeamentos com centenas de centenários. É uma questão de alimentação, de comportamentos, de genética. Nas grandes cidades começa-se a verificar o mesmo fenómeno. Em Paris, há mais de mil indivíduos com idade superior a 100 anos e ainda activos.
Em Portugal existem, segundo estatísticas, 21800 nonagenários, 16.250 mulheres e 5550 homens. Os Açores apresentam 1960 indivíduos de ambos os sexos nessa faixa etária. Com mais de meio século registam-se no país 560 mulheres e 188 homens.
Emídio Guerreiro, era o “ex-libris”, cuja imagem de revolucionário romântico e elegante encheu o imaginário de gerações, viveu em 3 séculos e faleceu com 105 anos. Encontros, almoços, projectos, entrevistas encheram a sua agenda até ao último momento.
Os idosos estão a tornar-se populações crescentemente poderosas – como força social (pelo seu número), cultural (pelos seus conhecimentos), económica (pelos seus consumos), política (pelos seus votos) interventiva (pela sua disponibilidade) e ética (pelo seu descomprometimento).
Sem nada a perder, - nem carreiras, nem cargos, nem hierarquias, nem privilégios, nem paixões – a maior parte deles encontra-se numa fase em que se pode dizer tudo, assumir tudo o que sente.
Nas sociedades do futuro, eles voltarão a ser um valor de sabedoria, de apaziguamento. Viver-se-á mais devagar nelas para se existir mais profundamente, viver-se-á mais despojado para se ser mais equitativo. O avanço que os idosos estão a conseguir é um legado, para quem o souber ver, de acrescentamento, de esperança.
Veja-se o exemplo de Mário Soares, como ele bem diz, não tem culpa de ter 80 anos. É um homem lúcido, está na posse de todas as suas faculdades. Como diz Medeiros Ferreira – Não conheço mais ninguém em Portugal que tenha intervindo tanto, escrito tanto, e organizado tanto como Mário Soares nestes últimos anos.
E tudo isto, tendo por base num artigo de Fernando Dacosta, para dizer que eu sou também a partir de hoje mais um aposentado. Será que, por ser idoso, já não se tem valor neste país?

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