quarta-feira, junho 21, 2006

RETALHOS - O princípio do fim II


Aproximaram-se os novos colegas da polícia e militares da Força Aérea, e um deles ajudou à missa dizendo:
“ – Nosso Pára, aproveitem. Já os outros que cá estavam faziam o mesmo. Esta tropa é para se fazer nas calmas… enquanto cá estão aproveitem.”
O Araújo, sujeito aparentemente bonacheirão, mas vivaço e sempre pronto a tirar proveito das situações, atirou logo de rajada:
“ – Tendes medo? Eu para a semana fico já em casa e que se foda a tropa.” – tentando tirar vantagem do facto de ficarmos surpresos com esta benesse que não lembrava ao diabo.
Eu tinha o exemplo do meu mano mais velho, que num quartel do exército em Sacavém, volta e meia, se desenfiava com a maior impunidade. Só agora, compreendia realmente como estas tropas, em África, eram presa fácil e o termo “carne para canhão” se aplicava com toda a propriedade.
Lembrei-me logo dos relatos feitos por aqueles que regressavam da guerra. Diziam eles, que mal uma companhia do exército era colocada no seu aquartelamento, era certo e sabido que nos primeiros dias os “turras” caíam-lhes em cima, flagelando-os sem piedade.
“ – Ó Afife, tem calma. Esta merda, não é à medida do freguês” – disse eu dirigindo-me ao Araújo. Era assim que eu o tratava por ser de Afife, terra do poeta Pedro Homem de Melo.
“ - O Furriel disse o que disse, mas nós não vamos pelo diz que disse. Se a velhice é um posto… eu sou o mais velho. Portanto, tem calma, temos toda a semana para pensar e não nos vamos meter em alhadas”.
Aquela cara de menino bonacheirão, virou, como por encanto, cara de menino amuado a quem lhe foi sacado o “brinquedo”. Esquecendo-se que o brinquedo, num instante, se poderia transformar, se algo corresse mal, num mandato para a “casa da rata” - assim era denominada, entres os militares, a prisão.
É evidente que aquela proposta me ficou a martelar nos ouvidos e pensando bem, não era de desperdiçar. Já bastava desperdiçar os meus melhores anos e arrancarem-me da minha cidade pacata - Viana do Castelo. Aqui, o mar combina na perfeição com a montanha. O estuário do rio Lima, outrora o rio do esquecimento, é de uma beleza única vagueando aos pés de Santa Luzia. As duas margens são ligadas por uma ponte metálica obra de Gustav Eiffel - o criador da torre Eiffel em Paris - que em Viana do Castelo também deixou a sua marca.

3 comentários:

Anónimo disse...

Que dor dilacerante ser privado dos melhores anos juvenis,e ter que deixar para trás a bela cidade natal,onde tudo conduz a beleza...
Que revolta.........,ainda mais sabendo do comportamento dos veteranos
Ligia.

Anónimo disse...

Cinco estrelas

Anónimo disse...

Só direi que quando fiz o espólio seja no ultimo dia de tropa me deram uma carecada e tive ainda, se não quiz vir nú para casa ,comprar umas calças uma t-shirt e umas sapatilhas na boutique dos Sargentos ,
sem meias nem cuecas , porque não fui avisado que ia para a vida civil!
Esta da carecada no meu ultimo dia de tropa e dia de meu aniversário ,para quem deu tudo que tinha pela nossa tropa ,acho que merecia mais respeito, e não apanhei uma lapada do 1° Srg.Carrilho porque fui mais lestre que ele mesmo,deu no vento !
se fosse hoje matava-o estou consciente que eram todos ou quase, umas maças brutas que tinham areia no sitio dos miolos.
bom como não estou aqui para fazer inimigos fazei de conta que não disse nada.

abraços