quarta-feira, junho 07, 2006

Asneiras do Sargentão

Scolari deve estar consciente de que, se falhar, não serão apenas meia dúzia de intelectuais que o vão criticar. Nesse dia, Portugal ficará repleto de intelectuais. A maioria porque não gosta de perder. Os outros porque até gostariam de o ver perder.

Luiz Felipe Scolari é, na minha opinião, o melhor seleccionador que Portugal alguma vez teve. É experiente, tem currículo e, fundamentalmente, é competente. Mas isto não faz dele um homem imune às críticas, nem muito menos evita que, não raras vezes, faça ou diga asneiras.
Scolari é conhecido desde os tempos em que trabalhava no seu país como o Sargentão. E não é por acaso. À sua evidente competência técnica – comprovada pelos inúmeros títulos conquistados – aliou sempre uma personalidade demasiado vincada, roçando a intolerância perante os seus atletas e os seus críticos. Se, no que toca aos jogadores com quem trabalha, até se compreende que goste de impor um certo rigor militar, já no que diz respeito aos que publicamente discordam das suas opções e opinião nada justifica a forma como muitas vezes reage. São traços de uma certa cultura militar e autoritária, que vigorou no seu e no nosso país durante várias décadas do século passado e que, pelo menos nós, portugueses, não queremos nem aceitamos voltar a viver.
O seleccionador nacional, como qualquer homem livre, tem todo o direito de não gostar das críticas que lhe fazem. Tem ainda mais direito de se defender e confrontar os que o criticam. O que não lhe fica bem é que utilize os termos com que se refere, em
entrevistas aos jornais do seu país, a um leque de comentadores que, cá pelo burgo, teimam em contrariá-lo. Toda a razão que pudesse ter, perde-a no instante em que recorre ao insulto.
Outra asneira recorrente de Scolari é a de pegar na bandeira da discriminação e da xenofobia quando se sente atacado. Dizer que os que o criticam o fazem por ele ser estrangeiro é, no mínimo, ridículo e insultuoso para todo o país que o tem tratado nas palminhas. E quem acusa homens como António Pedro Vasconcelos ou Miguel Sousa Tavares de xenofobia demonstra apenas que ainda não percebeu em que país vive. E já lá vão mais de quatro anos...
O que se pede a Scolari, agora, é que trate de fazer aquilo que sabe. Que se preocupe com a Selecção Nacional e a sua participação no Campeonato do Mundo. É por isso que ele será julgado, sendo que deve estar consciente de que, se falhar, não serão apenas meia dúzia de intelectuais que o vão criticar. Nesse dia, Portugal ficará repleto de intelectuais. A maioria porque não gosta de perder. Os outros porque até gostariam de o ver perder.

Manuel Barros Moura

1 comentário:

Anónimo disse...

Infelizmente algumas pessoas quando atingem certas posições de destaque,deixam a arrogância comandar,e isso reduz o brilho das ações.
As vezes a crítica é construtiva,e por isso e necessário ter humildade para aceitar.,pois se não ganhar ai vai ter que engolir.
Ligia